Cinema foi um trabalho experimental e vanguardista lançado no início de 1985. Em muitos sentidos era um representante do novo Brasil que renascia após 21 anos de trevas da Ditadura Militar. Musicalmente, foi um disco pioneiro da música brasileira na mistura de sonoridades acústicas e sintéticas.
No comando estava o músico, compositor, poeta, escritor, roteirista e locutor carioca Ronaldo Tapajós, que sempre esteve envolvido com música experimental e vanguardista. Sua trajetória começa no mítico 1968, quando, na dupla Rô e Carlinhos, lançou o emblemático compacto contendo a canção “O Gigante” – talvez a primeira bad trip brasileira registrada em vinil e uma sagaz crítica aos costumes caretas da sociedade.
O release de lançamento deste LP do Cinema dizia: “na era da música visual, Cinema é som”. Em termos sonoros, escutar esse álbum é mergulhar em uma intrigante angústia de tentar entender como aconteceu a relação entre a tecnologia disponível naquele momento (1983-1984) e os instrumentos mais orgânicos, essa dualidade entre os sintetizadores/efeitos com percussão, sopros, piano e clarineta. Ou seja: como era a convivência entre o sintético e o acústico? Esse paradoxo parece seduzir colecionadores, DJs e entusiastas da música brasileira dos anos 80 mundo afora.
Essa rara aventura da música brasileira foi lançada de forma independente, em 1985, bancada pelos próprios artistas. A pequena prensagem original sumiu nas mãos dos colecionadores de discos de todo o planeta. Pela primeira vez Cinema é relançado em vinil e com duas faixas extras e inéditas, encontradas depois de décadas.
Remasterizado a partir das fitas originais por Fernando Sanches e prensado na Europa, essa reedição inclui duas faixas bonus das mesmas sessões, reprodução da arte gráfica original (Waltércio Caldas e Miguel Rio Branco), e um livreto de oito paginas com novos depoimentos dos quatro integrantes do projeto e um extenso texto assinado por Bento Araujo, autor da série de livros Lindo Sonho Delirante, que investiga a música audaciosa e destemida produzida no underground brasileiro.
"Essa fictícia trilha sonora tem clima soturno, como se uma névoa de música dark e ambiente insistisse em permanecer por cima de alegres padrões de percussão afro-brasileira, ou de synth pop conceitual."
A Discos Nada é a divisão da Nada Nada Discos dedicada a reedições da música brasileira, de preferência experimental.
O Cinema, embora seja o terceiro lançamento do selo, é o primeiro que está disponível à venda no Brasil (em breve teremos o Persona e Caracol aqui no site).
